
17 November 2025
A Ética do Sofrimento e do Cuidado
por Anna Pivtorak Kostyuk
17.11.2025
A ética do sofrimento é um dos temas onde a sociedade revela os julgamentos mais duros e superficiais. As minhas primeiras associações não são sobre moralidade, mas sobre hipocrisia: muitos criticam os profissionais de saúde que aliviam a dor, enquanto eles próprios evitam ver o sofrimento real dos seus familiares. Quem acreditamos ter o direito de julgar?
A minha experiência pessoal moldou definitivamente a minha posição ética. Quando o cancro voltou à vida da minha mãe, o seu único pedido foi simples: não ser enviada ao hospital. Ela queria a sua casa, a sua dignidade, o seu silêncio. Contactar os cuidados paliativos foi essencial. Eles mostraram-me aquilo que os olhos facilmente ignoram — o seu sofrimento silencioso, visível apenas na respiração pesada. Aprendi a fazer injecções, mantive um registo rigoroso de tudo, coordenei-me com o médico e fiquei ao seu lado até ao último momento. Este foi o meu dever moral — como filha e como ser humano.
Num nível mais profundo, os cuidados paliativos são o elemento central na discussão sobre o Direito a Morrer. Não se trata apenas de aliviar a dor; trata-se de confirmar a falta de esperança e apoiar decisões difíceis, mas profundamente humanas. Quando os analgésicos deixam de funcionar, não vejo diferença ética entre uma injecção letal e a retirada do suporte vital. A única condição é um protocolo claro, que proteja os médicos de perseguição criminal.
Numa realidade de recursos de saúde limitados, a sociedade tem a obrigação moral de priorizar quem pode ser curado, mesmo mantendo o cuidado digno para quem está no fim da vida.
No plano cultural, surge outra distinção importante: o sofrimento físico versus o sofrimento causado por doenças mentais graves. A dor psicológica intensifica-se quando não existe alguém sábio disposto a dedicar tempo a conversas longas e consistentes. Os antidepressivos não curam a solidão. Por isso, o sofrimento mental requer um sistema independente de mentoria, capaz de ensinar a pessoa a viver novamente.
Para mim, a ética do sofrimento não trata da morte. Trata da presença. De sermos capazes de olhar a verdade nos olhos. De compreendermos que a dignidade humana se revela na forma como permanecemos ao lado de alguém até ao último segundo.
🖋️ "Cuidar com dignidade não é medicina — é a coragem de permanecer ao seu lado."
— Anna Pivtorak Kostyuk
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